giovedì 17 febbraio 2011

O lado barato da poesia


[...] bic cristal preta doendo nas falangetas, 
papel sobre a mesa,
a luz que vibra por cima, por baixo
a cadeira eléctrica que vibra, 
e é isto:
electrocutado, luz sacudida no cabelo,
a beleza do corpo no centro da beleza do mundo:
pontos de ouro nas frutas, 
frutas na luz escarpada,
clarões florais atrás de paredões de água,
água guardada no meio das fornalhas
– isto que, sentado eu na minha cadeira eléctrica,
entra a corrente por mim adentro e abala-me,
e com perícia artífice deixa no papel
o nexo estilístico entre
o terso, vívido, caótico e doce:
e o escrito, o carbonífero, o extinto,
o corpo [...]

Herberto Helder, Ofício Cantante, Assírio & Alvim, 2009, p. 607.

Sessantesimo anniversario della BIC cristal