Ruy Belo (1933-1978)
No meu país não acontece nada
À terra vai-se pela estrada em frente
Às casas com que o frio abre a praça
A brisa sopra e corre e varre o adro menos mal
A gente é previdente cala-se e mais nada
A boca é pra comer e pra trazer fechada
O único caminho é direito ao sol
No meu país não acontece nada
o corpo curva ao peso de uma alma que não sente
O fisco vela e a palavra era para toda a gente
E juntam-se na casa portuguesa
a saudade e o transistor sob o céu azul
A indústria prospera e fazem-se ao abrigo
da velha lei mental pastilhas de mentol
Morre-se a ocidente como o sol à tarde
Cai a sirene sob o sol a pino
Da inspecção do rosto o próprio olhar nos arde
Nesta orla costeira qual de nos foi um dia um menino ?
Há neste mundo seres para quem
A vida não contém contentamento
E a nação faz um apelo à mãe ,
O meu país é o que o mar não quer
É o pescador cuspido à praia à luz do dia
curvada o que de fronte erguida já lhe pertencia
A minha terra é uma grande estrada
O homem vende a vida e verga sob a enxada
O meu país é o que o mar não quer
“Morte ao Meio-dia” in Boca Bilingue (1966)
Nessun commento:
Posta un commento
Lascia un commento